tag:blogger.com,1999:blog-11258293106976648722024-02-06T21:14:26.833-08:00Jardim de palavrasA natureza é femininaShirlei do Carmohttp://www.blogger.com/profile/02583772464353484741noreply@blogger.comBlogger215125tag:blogger.com,1999:blog-1125829310697664872.post-46102640761712043092019-09-20T03:29:00.000-07:002019-09-20T03:29:18.142-07:00<br />
<br />
Relembrando uma escrita de um ano atrás, e que ainda faz muito sentido.<br />
<br />
Não fosse a teimosia<br />
já tinha acreditado<br />
Nesse depósito<br />
Utilitário<br />
<br />
Um dia a Margarida<br />
com mãos enrugadas<br />
Ensinou a plantar feijão<br />
De lá para cá<br />
Sou colheita<br />
<br />
<br />Shirlei do Carmohttp://www.blogger.com/profile/02583772464353484741noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1125829310697664872.post-31173459457296155462019-06-20T20:23:00.000-07:002019-06-20T20:23:15.749-07:00Para a criança que ainda me visitaO inverno já se anuncia, e tudo me lembra aconchego, talvez por isso a nostalgia também se aproxime, divide a coberta e o cheiro bom das memórias.<br />
Recordei dessa escrita, feita em 12 de outubro de 2018, exercício de desenhar as letras para brincar com o tempo.<br />
Para a criança que ainda sou eu:<br />
Faz tempo que não falamos das estrelas que fizeram manto, naquelas noites tranquilas. Lembra do cheiro das flores, e aquela roseira alta, parecia uma rainha desenhando a porteira.<br />
Um amor tão bonito, da água lavando o barro, e dançando com os peixinhos cabreiros. Nossos dedos adivinhando o gosto de moldar sonhos.<br />
Sinto falta do aconchego dos nossos abraços, e daquele tempo que a única preocupação era de não levar uma sova de vara, por gastar sonhos na beira do rio.<br />
Os adultos esquecem da importância de olhar a água, pensam tanto no perigo que se perdem nas tarefas do dia.<br />
Queria muito que você me perguntasse o que vamos fazer hoje, e ouvisse com aqueles olhos arregalados, fingindo que estava dentro de um livro, pressentindo que logo daria a hora do almoço, e se andássemos nas pontinhas de pés daria tempo de pegar um pedaço de carne na lata e esquentar no fogão de lenha, enfrentando o fogo e hora das coisas.<br />
Às vezes leio livros e sento na mesma posição que fazíamos antes, você volta e me acolhe, e desafiamos todas as regras de passado e presente, sem nenhum título que seja maior que a nossa existência mergulhadas na fantasia.<br />
Lembra da primeira vez que vimos uma tela de cinema, aquela com o filme do caminhão vindo na nossa direção, e o coração pulando pela boca, foi tão rápido, tanto medo. Saímos da sala e encontramos aquele parque de diversões gigante, segurando o chão e a mão materna que parecia uma fortaleza.<br />
Ainda éramos crianças quando nos reencontramos com a tela gigante, a história sem fim, e voamos por meses naquele bicho alado que chamávamos de cachorro do Artreio.<br />
Sinto saudades de você, de olhar pela janela e esperar cada coração misturado nas gotas de chuva, cantarolando pingos de amor, sem saber o que era poesia e mesmo assim encontar com ela só de brincadeira.<br />
Perguntavam tanto o que queríamos ser quando crescer, e hoje sei bem que raramente as pessoas se importam com os sonhos dos adultos. Faz tempo que não me perguntam o que quero ser agora adulta, normalmente me pedem para resolver coisas, e isso sempre me perde um pouco.<br />
Você mora longe, lá num passado, e só de teimosia me visita quando cuido das plantas, escrevo, desenho, invento comidas, é uma pena não poder ficar, mas eu entendo, e por isso alimento a esperança.<br />
Os dias tem sido nublados, você sabe como fico, um dia volte sem pressa, ainda sei conversar com passarinhos.Shirlei do Carmohttp://www.blogger.com/profile/02583772464353484741noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1125829310697664872.post-37495546727188206042019-05-21T06:04:00.002-07:002019-05-21T06:04:51.194-07:00Do silêncioNão falarei da dor<br />
Dizer é...<br />
Demasiado perigoso<br />
Nem dessa angústia<br />
Serei silêncio, e só<br />
Pés na terra, firme<br />
Até que o cheiro da chuva<br />
Cante com o vento<br />
Então poderei falar<br />
Sobre os dias sonhados<br />
E de todas as manhãs<br />
Que o café fresco<br />
Acordou a coragem<br />
<br />
Tem uma fenda dentro do peito<br />
Costurada com minha voz<br />
Se eu gritar tudo escorre<br />
Todas as lágrimas represadas<br />
Na pressa para fazer a janta<br />
Serei silêncio, e só<br />
<br />
Nos dias....<br />
Olho sempre para o alicerce<br />
Com todas as suas raízes<br />
Os telhados ficam longe da terra<br />
Céu é lugar da lua, do sol<br />
Das pessoas que lavram a palavra<br />
E daqueles passarinhos que acordam<br />
Uma existência inteira, em bando<br />
<br />
Me botaram para quarar cedo<br />
E desaprendi a parar por gosto<br />
Faz tempo que tento achar a cor certa<br />
Aquela que garante que existo<br />
Entre os varais, e as pilhas de louças<br />
<br />
Já falei tanto no meio da lida<br />
Que faltou fôlego para cantar com pássaros<br />
Um dia a areia me contou sobre o silêncio<br />
E fez tudo que não foi fazer sentido<br />
<br />
Se demorar para chover<br />
E o vento não cantar<br />
Vou para o colo de uma árvore<br />
Ela também sabe a importância<br />
Do silêncio, e tem muito para falar<br />
<br />
Shirlei do CarmoShirlei do Carmohttp://www.blogger.com/profile/02583772464353484741noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1125829310697664872.post-83287063305634046302018-04-29T19:35:00.002-07:002018-04-29T19:35:49.298-07:00Insistir também é desistência?Precisa um bocado de coragem, inclusive para refletir sobre a condição básica do que é existir. Dias passam e a vida passa junto, dá nó em pingo d'água pensar se tô insistindo por desistência. São Paulo tem concreto que adentra o olho e nubla a vista. Enquanto isso os boletos na caixa de correio lembram de todas as horas que não pude pensar sobre isso. Mais um dia no calendário que não pude ver o nascer do sol, regar as plantas e só ouvir o vento. Os boletos pontuais, os domingos de cansaço, ainda dizem sobre esse tempo, não fosse o despertador, e o ônibus que demora para passar era bem capaz de eu duvidar se tudo foi mesmo vivido. Antes de dormir vou regar as plantas, porque ainda insisto.Shirlei do Carmohttp://www.blogger.com/profile/02583772464353484741noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1125829310697664872.post-88272736658434737192018-04-29T19:34:00.000-07:002018-04-29T19:34:17.553-07:00A sombra<br />
escrita da luz<br />
avisa o corpo<br />
contém forma<br />
corre<br />
Planta pés no chão<br />
Cada passo é palavra<br />
A terra conta<br />
lá vai<br />
o meninoShirlei do Carmohttp://www.blogger.com/profile/02583772464353484741noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1125829310697664872.post-15597474311032447082018-04-29T19:30:00.002-07:002018-04-29T19:30:54.360-07:00Domingo com chuva, convite para curtir a cama. Na janela, a dança das gotas faz bonita a paisagem. O som manso e constante chama para dentro, serve chá quente para as memórias. A coberta abraça, o sono sussurra, uns convidam a preguiça, outros o descanso, há quem saia para dançar. Daqui recebo a nostalgia, e procuro os pingos de amor.Shirlei do Carmohttp://www.blogger.com/profile/02583772464353484741noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1125829310697664872.post-49026741664579233412018-04-29T19:29:00.000-07:002018-04-29T19:29:44.220-07:00Prédio de estacionamento e moradores de rua, naturalização do absurdo.<br />
<br />
Caminhar no centro de São Paulo, me faz duvidar do sentido, e do fluxo que cega.Shirlei do Carmohttp://www.blogger.com/profile/02583772464353484741noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1125829310697664872.post-83259919875920849312018-04-29T19:26:00.000-07:002018-04-29T19:26:19.125-07:00O açoite que corta a carne, o caruncho que fere o grão, não podem aprisionar o silêncio, e essa capacidade da vida de ser o incerto, também por isso o sol esquenta o corpo, e lembra que a poesia é um trem indomado que dança no caos.<br />
Alimento o desespero assim como a esperança, por hoje sobrevivo.<br />
<br />
"E, aquele<br />
Que não morou nunca em seus próprios abismos<br />
Nem andou em promiscuidade com os seus fantasmas<br />
Não foi marcado. Não será exposto<br />
às fraquezas, ao desalento, ao amor, ao poema." Manoel de BarrosShirlei do Carmohttp://www.blogger.com/profile/02583772464353484741noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1125829310697664872.post-57250810495490520862018-04-04T19:40:00.002-07:002018-04-04T19:40:55.600-07:00<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIAxd3aRHVaEVXqCzkSO-JoKwXK9YencCDDGTk4tbgqKH5uapc_6dmJ7_FAc78EI9tO7FksxOsQ8W7SnVUUckqEY8gx7S7KZ-hQYO_FYQ73gkTYwLM__m0Q48AUqu7S32GILYZo9Rrm0Iz/s1600/IMG_20180403_234137491.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1201" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIAxd3aRHVaEVXqCzkSO-JoKwXK9YencCDDGTk4tbgqKH5uapc_6dmJ7_FAc78EI9tO7FksxOsQ8W7SnVUUckqEY8gx7S7KZ-hQYO_FYQ73gkTYwLM__m0Q48AUqu7S32GILYZo9Rrm0Iz/s320/IMG_20180403_234137491.jpg" width="240" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Deita na grama e floresce</div>
<div style="text-align: center;">
Criança</div>
<div style="text-align: center;">
Não deixa este destino</div>
<div style="text-align: center;">
Alvo</div>
<div style="text-align: center;">
Plantar balas nos frutos</div>
<div style="text-align: center;">
Gente</div>
<div style="text-align: center;">
É tanto tiro pesticida </div>
<div style="text-align: center;">
Ódio</div>
<div style="text-align: center;">
Réga os olhos da mãe</div>
<div style="text-align: center;">
Preta</div>
<div style="text-align: center;">
A lágrima diferente</div>
Shirlei do Carmohttp://www.blogger.com/profile/02583772464353484741noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1125829310697664872.post-75442544510962275022018-03-14T05:58:00.000-07:002018-03-14T05:58:08.761-07:00E quando possível<br />
sinta<br />
Se necessário<br />
leia<br />
Sempre ame<br />
A vida é um pulsar<br />
Entre encontros<br />
e desencontros<br />
Ela brinca, aflora.<br />
A beleza da lua cheia<br />
mora na inconstância.<br />
<br />Shirlei do Carmohttp://www.blogger.com/profile/02583772464353484741noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1125829310697664872.post-68731030698217471722018-03-01T02:45:00.002-08:002018-03-01T02:45:11.073-08:00Quem é você, quando ninguém vê?<br />
Quantas vezes você já perguntou para quem convive se estas pessoas tem momentos felizes?<br />
Quanto vale a sua paz?<br />
Quem segura a sua mão quando um pesadelo te visita?<br />
Quem responde as perguntas que você faz em silêncio, antes de adormecer?<br />
Você ainda lembra da beleza?<br />
E aquele abraço demorado na despedida, ainda faz seu coração disparar?<br />
Você está vivo ou só poupando?<br />
Cadê aquela criança que ria com o inesperado?<br />
Das certezas desta vida é só a partida, o resto é sorte, quem alimenta suas andanças entre a chegada e a despedida? O dinheiro? O que os outros pensam, o medo, a vontade de controle desmedida?<br />
Você ainda lembra que o importante é o amor?<br />
Existe razão em viver sem arriscar sofrer?<br />
Dá para viver sem perguntar?Shirlei do Carmohttp://www.blogger.com/profile/02583772464353484741noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1125829310697664872.post-79982382106103904692018-02-24T06:17:00.000-08:002018-04-04T19:52:20.015-07:00Perdi as contas de quantos comprimidos engoli, junto com a angustia.<br />
Reconheço a dor, também física que assina no meu corpo, e conversa com a exaustão dessa existência comprimida.<br />
Vesti roupas coloridas e recorri a maquiagens para compor um bem estar só aparente, combinando com a adequação ao relógio e ao calendário, nesses prazos desrespeitosos que ainda assim me sujeito. Quase um personagem, essa casca que me encaixa nesse convívio não humano, eficiente, adequada ao vencimento com holerite e vínculo empregatício, mergulhada entre emails e ligações não atendidas.<br />
Insisto nessa teimosia de sorrir apesar de tudo, das intervenções, e esperas por horas nos pontos de ônibus, enquanto olho e me espanto com o contingente policial nas ruas, os ruídos das buzinas impacientes, em meio ao cenário de abandono da cidade.<br />
Mais um comprimido para o estômago, outro para a garganta, outro para os hormônios, na fila alguns analgésicos, por graça ou displicência lembro dos efeitos da cachaça, uma pena fazer tanto estrago.<br />
Outro dia vi uma foto, o espanto da criança, a artilharia pesada, e nem com doses dobradas de analgésicos engoli, a garganta permanece inflamada.<br />
Quantas sementes posso germinar para manter viva a esperança? Isso não tem valor no mercado, nem agrega no currículo, muito menos é pontuado nos diálogos com a prestação de serviços, carimbo na minha escrita as facas que riscam a carne por dentro, enquanto torço para a árvore dar frutos, um tanto contraditório, mesmo assim tem mais sentido que a realidade.<br />
A estética dos corpos, e também do vestuário, recurso que também utilizo, faz do íntimo também o circulatório, as pessoas em São Paulo raramente dizem bom dia, mas visivelmente se comunicam nesses nichos regulatórios. Na avenida Europa serei sempre uma estrangeira, sem visto de permanência.<br />
Mais um comprimido para o refluxo, no estômago a cidade também buzina.<br />
Passei semanas sem varrer o quintal, agradecendo por chover e poupar o trabalho de regar as plantas, assinalando no calendário mais um dia "vivido" enquanto guardava as compras do mercado, que provavelmente não terei tempo de sentar para comer.<br />
O intestino humano tem em média de 6 a 8 metros de comprimento, com sua eficácia para produzir merda. Nos rios da cidade nenhum comprimido diminui a azia com o odor de São Paulo.<br />
Todos os dias damos descargas sem perguntar para onde vão as merdas que fazemos, lavamos as mãos em nome da boa higiene e seguimos engolindo as doses diárias de alimentos e água tratada.<br />
Me espanto com a sanidade das pessoas, inclusive a mental, exceto nos dias que alguém apoia violência contra crianças, nesses acho adequado a ingestão de comprimidos e hábito de tomar a mesma água que pagamos para tratar, até porque as nossas merdas são toleráveis nos rios, nos seis a oito metros de intestino só temporariamente e de forma individual. Esse registro sobre problemas digestivos talvez seja mais um comprimido para o exercício diário de engolir, e digerir a existência em São Paulo.Shirlei do Carmohttp://www.blogger.com/profile/02583772464353484741noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1125829310697664872.post-23841308203723420532018-02-22T20:24:00.002-08:002018-03-01T02:45:39.002-08:00In constânciaEu não sou nada, mas estou sempre de algum jeito, tudo transitório, inclusive a ideia que se cria sobre isso. Constante é a fome, ou acordar cedo e o gosto pelo silêncio. Não se surpreenda se me encontrar na multidão com barulho, tem uma angústia inominável que me move, outro dia amanheceu chovendo e sorriu tudo em mim, nem triste consigo ser com tanta dedicação. Mas isso não é sina, meu peito ás vezes canta e faz da vida rima. Nenhuma lei vai me fazer ser esse concreto, e por isso eu sobrevivo.<br />
<br />
Shirlei do CarmoShirlei do Carmohttp://www.blogger.com/profile/02583772464353484741noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1125829310697664872.post-21717065906855126972018-02-22T20:17:00.001-08:002018-02-22T20:17:30.114-08:00Prosa no pontoMe despedi da filha, depois da mãe no portão, olhei o asfalto molhado com a garoa, um engasgo com o pensamento sobre essa inconstância do tempo. Enfim avisto o ponto de ônibus, espera para atravessar a rua, e o ônibus partia, olhei o relógio, ainda dava tempo de torcer pelo próximo.<br />
Foram uns segundos sozinha, e a senhora se aproxima, chegou brava, nem falou bom dia, reclamou do ônibus, do tempo, dos médicos.<br />
A raiz dos cabelos brancos, o rosto marcado, e aquela angustia impaciente, resolvi puxar assunto, falei do tempo, da preocupação com a horta, e logo emendei com um aceno de esperança, às 10 h costuma passar um ônibus.<br />
Ela devolveu:<br />
- "O que mata não é o tempo, são os médicos!"<br />
Logo vi que a situação do ônibus era só uma parte. Perguntei se ela estava atrasada para uma consulta, falei que o ônibus logo viria.<br />
A resposta um câncer no intestino, e o medo traduzido naquela expressão com as marcas do tempo.<br />
Contei das pessoas que conheço e que sobreviveram ao câncer, da importância de fazer o tratamento e acreditar na cura, sorri e avisei sobre o ônibus que enfim se aproximava.<br />
Ela sorriu, me abraçou, agradeceu, entramos no ônibus. Agradeço o encontro, a vida manda mensagens, e lembrei que o sereno deixa as folhas com as cores mais bonitas.Shirlei do Carmohttp://www.blogger.com/profile/02583772464353484741noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1125829310697664872.post-91775563383202540722018-02-22T20:06:00.000-08:002018-02-22T20:06:48.238-08:00Não fosse o rodopio<br />
E o vento frio cortante<br />
Este corpo insolente<br />
Teria asas e não rio.<br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
Shirlei do Carmo</blockquote>
Shirlei do Carmohttp://www.blogger.com/profile/02583772464353484741noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1125829310697664872.post-43485360729094568142018-02-22T19:50:00.001-08:002018-02-22T19:50:10.141-08:00Desabafo sobre notícias sobrepostas<br />
<br />
Perpassa o corpo, curso desenfreado<br />
Antecede as cinzas, fogo no lar sagrado<br />
<br />
Um tanto angústia, silêncio é calmaria?<br />
<br />
O campo já foi arado, adianta semear amor?<br />
E esta contenção? Rebeldia virtual, veja!<br />
<br />
Logo morre, e a dor? Naturalizada, represa.<br />
<br />
Me explica o progresso, o índigena sem terra.<br />
A bala no peito, e esse ódio pontual.<br />
<br />
Comemora a sexta-feira, és liberto?<br />
Massacre, e mais uma manchete de jornal.<br />
<br />
Se mil caírem ao seu lado, e só você não for atingido, conseguirá ser feliz assim?<br />
O que fará para secar o sangue aos seus pés? Que humano é esse? Tem certeza que isso é salvação?<br />
<br />
Por teimosa tenho esperança.<br />
Oração é mais que uma reza, amem.<br />
<br />
Shirlei do CarmoShirlei do Carmohttp://www.blogger.com/profile/02583772464353484741noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1125829310697664872.post-48178005350178276652018-02-22T19:46:00.000-08:002018-02-22T19:46:09.005-08:00Visitei minhas escritas, e lembrei de um tempo, agora perfeito, de palavras abraços.<br />
Ao amor, que renasce amizade, já foi chegada, também partida, virou poesia.<br />
<br />
Agradeço<br />
<br />
Pela vida, nas horas simples<br />
Que repousa nos seus braços<br />
Pela conversa, também poética<br />
Pensamentos livres e cúmplices<br />
Perfume de jasmim que observa<br />
Teu cheiro e texturas em mim<br />
Com a paz que se conserva<br />
Pela oportunidade da nudez<br />
Do corpo e principalmente da alma<br />
Esse sono que desperta a calma<br />
Da existência em nós<br />
<br />
Shirlei do CarmoShirlei do Carmohttp://www.blogger.com/profile/02583772464353484741noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1125829310697664872.post-5320771046302582862018-02-22T19:41:00.001-08:002018-02-22T19:41:57.298-08:00Janela de ônibus 2017Sempre gostei de olhar as árvores, elas são incríveis e complexas, aquela força tronco, as folhas que dançam leves com o vento, luz e sombra e todas aquelas veias e vincos.<br />
No inverno algumas troncos nus, ficam lá imóveis observando o vai e vem nas avenidas. Dentro da dureza do tronco, seiva vida liga céu e terra sem pedir licença.<br />
Agora primavera, muitas em trajes de gala são flores e o colorido que arrebata, por instantes a cidade é calmaria nas cores dos ipês.<br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
Shirlei do Carmo</blockquote>
Shirlei do Carmohttp://www.blogger.com/profile/02583772464353484741noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1125829310697664872.post-17543740547489402022018-02-22T19:37:00.001-08:002018-02-22T19:37:44.078-08:00Plantio<br />
<br />
Já fui menina e ajudava minha mãe a catar feijão, separava pedrinhas e bandinhas, grãos enrugados, os mais bonitos iam para panela. Com seis anos já entendia bem essa história de aparência, mas também insistia na fertilidade dos que sobravam e jogava num cantinho de terra só para ver no que iriam dar, talvez uma plantação de feijões partidos, brotinhos para me encantar. Cresci no meio dessa fertilidade, minha mãe diz que tenho mão boa para plantar, pode ser, até na laje dá... Acabaram os feijões, ficou isso aqui, nem sei se reconheço, as vezes vira rima, outras chuva-lágrimas, semeei um tanto oco, logo nasce eco.<br />
<br />
Shirlei do CarmoShirlei do Carmohttp://www.blogger.com/profile/02583772464353484741noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1125829310697664872.post-39958232081668820712018-02-22T19:33:00.003-08:002018-02-22T19:33:56.807-08:00Para a mulher que também sou eu, e poderia ser qualquer outra<br />
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Pare de aceitar migalhas da vida, você não é um pombo. Abrace a existência com vontade.<br />
Todo risco também é possibilidade, e não fosse essa capacidade incrível de cair e levantar ainda estaríamos rastejando, caminhar requer utopia e amor.<br />
E se der medo, vai borrada, segurando na parede, mas tenta, o máximo que pode acontecer é cair novamente.<br />
Faz revolução no coração, para ser fogueira e mar selvagem, cachoeira e brisa quente.<br />
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Shirlei do CarmoShirlei do Carmohttp://www.blogger.com/profile/02583772464353484741noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1125829310697664872.post-69375088817485665692018-02-22T19:19:00.000-08:002018-02-22T19:34:22.952-08:00Me gritaram negra:<br />
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Quando criança, no apelido de bruxa por causa do cabelo, crespo. Era a inteligente, bonita não, sempre um aperta esse nariz, prende esse fuá, piolhenta, beiçuda.<br />
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Na adolescência, na mochila revistada quando o perfume de alguém sumiu, essa cara é suspeita, ainda se fosse angelical, esse CEP é marginal. Duas tentativas de estupro...<br />
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Já adulta, nos corredores das lojas, segurança é coisa de gente com outra cor, reconheço a vigilância. No tratamento descortês naturalizado. Na sugestão do relacionamento escondido, e naquela fixação do corpo como uma existência inteira só bunda.<br />
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Racismo não é igual almoço de domingo, com opção de levantar da mesa, primeiro acaba com a auto estima, enquanto te transforma em presa.<br />
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Não me venha com "consciência humana, racismo é coisa da sua cabeça." Tem uma existência toda dizendo que sou negra e que racismo é estrutural.<br />
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Shirlei do CarmoShirlei do Carmohttp://www.blogger.com/profile/02583772464353484741noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1125829310697664872.post-61963687477494506232018-02-22T19:05:00.001-08:002018-02-22T19:05:21.360-08:00Me fale das possibilidades<br />
Do calor nos corpos<br />
Das caminhadas e fantasias<br />
Eu também vejo o muro<br />
Tijolo por tijolo<br />
Mesmo assim anseio o pulo<br />
Vê aquele tom terracota<br />
E tudo que o sustenta<br />
O horizonte atravessado<br />
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A vida me interessa<br />
Inclusive seu corpo inerte<br />
Diante do medo, alinhado<br />
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Cada boca que beijamos<br />
Tinha um gosto diferente<br />
O deslizar de lábios, quentes<br />
O movimento das línguas<br />
Veja bem, há nisso uma dança<br />
Os sons fluídos, perdidos<br />
entre os corpos, o ranger das camas<br />
É plural veja bem, há sempre um contexto<br />
Falemos diverso, também dessa fúria<br />
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Viu aquelas flores no caminho?<br />
Ainda é primavera, tem sempre um convite<br />
Outro dia me apresentaram uma poeta<br />
Rasgou meu peito, flecha palavra<br />
Atravessou o oceano, o tempo<br />
Repousa aqui com a taça de vinho<br />
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Logo verão, o bronze na pele<br />
A luz nos olhos diante do sol<br />
Um dia vou me atirar em vários calibres<br />
Derrubar suas folhas e fazer outono<br />
Deslizar até o inverno dos nossos corpos<br />
Contarei dos dias além dos muros<br />
E mergulharei nos seus olhos<br />
Até o mar, na deriva que habitamos.<br />
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Shirlei do CarmoShirlei do Carmohttp://www.blogger.com/profile/02583772464353484741noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1125829310697664872.post-49160255209102974582018-02-22T18:58:00.004-08:002018-02-22T18:58:33.411-08:00Dos surtos e furtos de vida<br />
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38 não é calibre, é tempo<br />
Se silêncio fala bastante<br />
Releia, mastigue, dispare<br />
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Ausência tem um tanto<br />
De luto e luta, direito<br />
Recolha, adormeça, embale<br />
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A sutura não é pública<br />
Riso é rebeldia, aprenda<br />
Insano é não chorar, deságua<br />
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Shirlei do CarmoShirlei do Carmohttp://www.blogger.com/profile/02583772464353484741noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1125829310697664872.post-12419453650241704812018-02-22T18:58:00.001-08:002018-02-22T18:58:00.183-08:00Escritas em deslocamento<br />
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Não me negue o direito à beleza<br />
Nem ao risco da entrega<br />
Esse desbravamento da vida<br />
Onde o corpo é também viagem<br />
Escuta bem o meu silêncio<br />
E essa ausência no registro de nós<br />
O vidro trincado não cortou os pés<br />
Mas partiu aquela esperança de ser junto<br />
A brisa do mar que percorreu meu corpo<br />
Também passeou pelo seu, assim distante<br />
Pensei tanto em Pina Bausch, nas ondas<br />
Não podia te contar, tinha o muro<br />
Essa construção que se ergueu de repente<br />
Li seus olhos algumas vezes, contraditórios<br />
E não me achei lá, foi uma longa despedida<br />
As praias insistem em mostrar o horizonte<br />
E toda a alegria das crianças no mar<br />
As cores da aurora dizem sobre a vida<br />
E todas as possibilidades além dos nós.<br />
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Shirlei do CarmoShirlei do Carmohttp://www.blogger.com/profile/02583772464353484741noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1125829310697664872.post-1644762616923655172018-02-22T18:57:00.002-08:002018-02-22T18:57:31.050-08:00Poesia vencida<br />
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Papéis acumulam<br />
Na mesa<br />
Urgências e prazos<br />
Essa tristeza<br />
Assovia a finitude<br />
Quantificada<br />
Palidez e desobediência<br />
Eu apaixonada?<br />
Tem sempre um rio<br />
Também o nada<br />
Cresce a saudade<br />
Ando assustada.<br />
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Shirlei do CarmoShirlei do Carmohttp://www.blogger.com/profile/02583772464353484741noreply@blogger.com0