sexta-feira, 8 de junho de 2012

Julieta em São Paulo

Se é para falar de amores impossíveis nada melhor que me inspirar em Shakespeare, num cenário de concreto e fumaça cinzenta, entre grafites e buzinas, nas ruas movimentadas com seus prédios amontoados.
A história começa no coração de Julieta, mulher urbana que acorda cedo, enfrenta o trânsito e acredita na vida   apesar das inúmeras desilusões amorosas que coleciona.
A Julieta paulista tem seus 35 anos e ainda quer casar, olha cada homem que se aproxima cheio de mel como seu Romeu, o homem prometido em vidas passadas, o companheiro das noites geladas e das caminhadas na feira de domingo. Olha o sol como uma bússola para guiar os passos rápidos entre as esquinas perigosas da vida, segura forte a bolsa contra o corpo pois tem medo da violência que assola os solitários, e acredita carregar tesouros insubstituiveis como seu rímel e batom baratos instrumentos de mágicos de beleza instantânea. Julieta assim como tantas se preocupa com a imagem, escrava de um padrão que traz tanto sofrimento, caminha entre vitrines e pensa nas prestações do cartão de crédito e na possibilidade de dever um pouco mais.
Decidida entra no recanto da beleza, pinta, hidrata e escova seus cabelos que passam a ser de uma outra mulher, a dama do comercial de shampoo. Perfuma-se, confere a roupa, verifica o brilho dos sapatos e ensaia o sorriso perfeito, e volta para sua caminhada solitária mas agora como deusa e aguarda o enlace perfeito.
Julieta busca assim, no cotidiano a sua metade da laranja e nem imagina o quanto se perde de tanto procurar.
E numa tarde despretensiosa lá vem ele o Romeu, homem urbano, colecionador de mulheres, lobo em pele de cordeiro, e sem nenhuma restrição rouba o coração da pobre Julieta e a coloca no seu harém, e ela depois de tanto esperar passa a lutar para conquistar seu amor, sentimento esse que ele desconhece, acostumou-se a consumir vidas.
Raramente caminham juntos, Romeu diz ama-la enquanto goza e ela consome migalhas por não lembrar quem é, colecionam segredos, ela de suas dores e ele de seus "amores", o casal perfeito dessa vida cinza e morna. Ambos estão mortos sem saber, e nunca conhecerão quem realmente são, separados por projeções, ele da dama perfeita, e ela do homem redimido.
Julieta e Romeu caminham na multidão, você pode encontrá-los nas páginas sociais curtindo e compartilhando, e nessa história eles não morrem fisicamente, gozam de boa saúde, ele pratica esportes, ela pinta as unhas, são separados pelo não saber amar, envenenados pelas buscas pessoais.
Dizem que em breve  viajarão juntos, tentativa de encontrar antídoto mas em doses tão pequenas quem poderá vencer tal mal.