sábado, 8 de março de 2014

Luz de vela

Luz e sombra flertam
na dança da chama
Não importa 
o tamanho da vela
diante da imponência do fogo.

Diálogo interno

Mulher, para que tanto carnaval?
Aceite o que é natural
O caminho é findar-se
A beleza é efêmera
Acontece no instante
Na perplexidade do encontro
Reinventa-se
A tempestade lava tudo
Com sua força
Parte como chegou, de repente.
Paciência, logo chove.

Operações afetivas

Junta tudo
tua sina
minha rima.
Terra embaixo
céu acima.
Teu partir 
meu somar.
E quem sabe 
o silêncio
deixe de gritar.

Garoa nos olhos

Garoa mansa, molha
O asfalto sob a sola
Olhos no horizonte
A saudade assola
E a Paulista chora
as lembranças sem ponte.

Nos trilhos

Na linha vermelha
meus pés saíram do chão
Tanta gente empurrando
Virei parte da multidão

Na linha amarela
as escadas rolantes tem pressa
Espremida no corrimão
repetia meu mantra:
Mulher não estressa
Quem muito corre a morte apressa.

Na linha lilás
Observo a movimentação
Conduzidos como boiada
Sonhamos com a liberdade
quem sabe, na aposentadoria...

Rebele-se, respire fundo
Este ritmo passo a passo
que acende o descompasso
do meu coração no contra-fluxo.

No jardim das Marias

Não descendo da Eva!

Sou filha da Maria, 
que nasceu da Rosa,
filha da Margarida.
Mulheres da terra,
entre flores e ervas,
guerreiras ancestrais.

Eu Aparecida,
mergulho nas águas,
caminho sem manto.
Aprendi a plantar,
cozinhar e costurar
com a flor Margarida.

Herdei a teimosia,
a coragem no combate
da mulher Maria,
que também é Rosa.

Entre os tachos,
retalhos e linhas,
crochês e silêncios...
Maria e Antônia
me fizeram artesã
a dominar o ponto de fio.

Da Maria, doce mãe
recebi resiliência.
E um tanto de amar.
Ela que me fez filha,
fez-se pouso para curar.

A minha Maria flor,
que vigia os meus caminhos
e me lê como ninguém.
Mulher que me olha nos olhos
e vê além dos meus sorrisos.

Quem nasce filha de guerreira,
cedo aprende a caminhar.
Retira forças da terra,
semeia e aguarda germinar.
Materna, fecunda.

E mulher mãe, alimento
a estrela Ana,
mulher em botão.
Aurora, inspira a ação.

Não descendo da Eva...

E por não ser costela de ninguém, reconheço-me inteira.
Entregue ao vento por saber que estou de passagem...
Como as flores que me antecederam neste jardim.

Retorno ao blog...

Dos dias vividos, uns nos tomam pela mão e convidam para saborear, é um tanto de sentidos que recusar não é opção. Depois de viver estes dias, resolvi voltar ao blog. Colocarei as palavras que dançavam nos caderninhos espalhados pelo quarto e bolsas, outras passearam soltas nas conversas de bar, ou nos desabafos com o travesseiro, companheiro inseparável nas noites de pensar. E que as palavras voem feito borboletas, agora quero brincar de escrever.