terça-feira, 2 de novembro de 2010

Inominável

Olhava para dentro e via as asas negras
ora pousadas, ora voando, multiplicavam-se.
Beleza intocada, violada agora com meu olhar de alma leve.
Tocava suas asas e voava junto, sem rumo, era só liberdade.
Nuvens densas se abriam, céu azul e vento.
E durante o voo retornei ao passado,
me vi criança tomando leite, cheirando a flor, tocando a terra.
Comi das palavras, mastiguei, misturei seus sons.
Ecoavam palavras novas, um dialéto inconsciente, gritava...
Sonora, sentia a plenitude de entregar-se ao não ser.
Nadei num céu de sangue, percorri o fluxo no corpo,
cada movimento cadenciado pelo bombear do coração.
Tão pleno, cada célula ligada a outra numa explosão de prazer.
E o vermelho que queimava tornou-se lilás, completo.
Tanta paz, que não cabia mais controlar nenhum sentir,
era hora de entregar-se, dei-me de asas abertas afagadas pelo vento.
Era dia, sim me lembro, mas as estrelas estavam lá e corriam,
saltitavam alegres deixando rastros de luzes corolridas,
ondas elétricas, ardiam, transpassavam a pele.
Percepção sensorial desconhecida, única!
Um quase perder os sentidos, descobrindo outros adormecidos.
Asas batiam ao meu lado, ouvia o ritmo dos corações.
O afago do vento, criança travessa que insiste em ficar,
cantava, melodia de assovios, sonoro carinho.
O corpo vibrava, pulsação, contração e enfim relaxamento total.
Adormeci por instantes, silêncio...paz!
Mariposas num céu de sangue violando o azul sem fim.
E vi o desconhecido para conhecer-me.
Não sabia te dar nome, devorei as palavras.
Não sabia descrever-te, bastava me entregar.
Mas íntima de teu e meu sentir, chamo-te de inominável,
aguardo o reencontro, escuto seu chamado no vento.
Inominável....

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