Eis que chega a Primavera, suas cores e aromas invadem a cidade, a casa, o corpo. Mas desconfio que o Inverno também se encantou por esta beldade, o clima está incerto, como se ambos flertassem de mãos dadas.
Nestes dias frios e lindos, avistei arco-íris pela manhã, ouvi o vento cantar imperioso, quase gritos que balançavam a janela, vi minhas plantinhas crescerem, as flores desabrocharem e constatei algo que disfarçava...Sou uma romântica!
Após pensar nas minhas reações diante dos caminhos que a vida ofereceu percebi que criei casca grossa porque o interior é mole.
Alguns sintomas me chamaram a atenção:
Amor pela poesia, e dos avassaladores;
Tendência a nostalgia, o antigo me atrai como chocolate;
Contemplação ao ver a lua, céu estrelado, as cores do amanhecer e do entardecer;
Gosto pelas flores, a delicadeza do desabrochar e colorir tudo em volta;
Preferência ao drama, seja no cinema ou literatura;
Incorrigível otimismo...
Reações faciais e corporais diversas impulsionadas pelo calor das emoções;
Manter caderninhos para registrar pensamentos, sensações, inspirações;
...
E agora!?
A Primavera chegou e abriu-me os olhos, sou romântica mesmo!
Dada esta constatação, aproveitarei a fase de auto-conhecimento e me permitirei o piegas, o insano e libertador exercício do romantismo.
O vento continua seu canto, flores desabrocham, a lua cheia brilha no céu e o caminho é longo e largo...
domingo, 30 de setembro de 2012
sexta-feira, 8 de junho de 2012
Julieta em São Paulo
Se é para falar de amores impossíveis nada melhor que me inspirar em Shakespeare, num cenário de concreto e fumaça cinzenta, entre grafites e buzinas, nas ruas movimentadas com seus prédios amontoados.
A história começa no coração de Julieta, mulher urbana que acorda cedo, enfrenta o trânsito e acredita na vida apesar das inúmeras desilusões amorosas que coleciona.
A Julieta paulista tem seus 35 anos e ainda quer casar, olha cada homem que se aproxima cheio de mel como seu Romeu, o homem prometido em vidas passadas, o companheiro das noites geladas e das caminhadas na feira de domingo. Olha o sol como uma bússola para guiar os passos rápidos entre as esquinas perigosas da vida, segura forte a bolsa contra o corpo pois tem medo da violência que assola os solitários, e acredita carregar tesouros insubstituiveis como seu rímel e batom baratos instrumentos de mágicos de beleza instantânea. Julieta assim como tantas se preocupa com a imagem, escrava de um padrão que traz tanto sofrimento, caminha entre vitrines e pensa nas prestações do cartão de crédito e na possibilidade de dever um pouco mais.
Decidida entra no recanto da beleza, pinta, hidrata e escova seus cabelos que passam a ser de uma outra mulher, a dama do comercial de shampoo. Perfuma-se, confere a roupa, verifica o brilho dos sapatos e ensaia o sorriso perfeito, e volta para sua caminhada solitária mas agora como deusa e aguarda o enlace perfeito.
Julieta busca assim, no cotidiano a sua metade da laranja e nem imagina o quanto se perde de tanto procurar.
E numa tarde despretensiosa lá vem ele o Romeu, homem urbano, colecionador de mulheres, lobo em pele de cordeiro, e sem nenhuma restrição rouba o coração da pobre Julieta e a coloca no seu harém, e ela depois de tanto esperar passa a lutar para conquistar seu amor, sentimento esse que ele desconhece, acostumou-se a consumir vidas.
Raramente caminham juntos, Romeu diz ama-la enquanto goza e ela consome migalhas por não lembrar quem é, colecionam segredos, ela de suas dores e ele de seus "amores", o casal perfeito dessa vida cinza e morna. Ambos estão mortos sem saber, e nunca conhecerão quem realmente são, separados por projeções, ele da dama perfeita, e ela do homem redimido.
Julieta e Romeu caminham na multidão, você pode encontrá-los nas páginas sociais curtindo e compartilhando, e nessa história eles não morrem fisicamente, gozam de boa saúde, ele pratica esportes, ela pinta as unhas, são separados pelo não saber amar, envenenados pelas buscas pessoais.
Dizem que em breve viajarão juntos, tentativa de encontrar antídoto mas em doses tão pequenas quem poderá vencer tal mal.
sexta-feira, 25 de maio de 2012
Verbalizo
Relembro instantes,
estados profundos
Experimento reflexos,
sagrado e profano
Revejo caminhos,
passos longos
Anseio sonhos,
sentidos aflorados
Escuto mentiras,
verdades inventadas
Encontro cortes,
linhas e veias
Repasso gentileza,
vingança humana
Descubro reflexo,
subversão do tempo
É tanto verbo, é tanto
Sou pouco, desconheço
Tateio no escuro, escuto
E o beijo não dado aquece minha boca, calada.
Deixo o inverno chegar ciente da fragilidade do tempo
Enfim, é fim, e finalmente.
estados profundos
Experimento reflexos,
sagrado e profano
Revejo caminhos,
passos longos
Anseio sonhos,
sentidos aflorados
Escuto mentiras,
verdades inventadas
Encontro cortes,
linhas e veias
Repasso gentileza,
vingança humana
Descubro reflexo,
subversão do tempo
É tanto verbo, é tanto
Sou pouco, desconheço
Tateio no escuro, escuto
E o beijo não dado aquece minha boca, calada.
Deixo o inverno chegar ciente da fragilidade do tempo
Enfim, é fim, e finalmente.
quinta-feira, 3 de maio de 2012
Avesso
Revirada
Me vejo pelo avesso
Mostro meus remendos
Corto linhas, arremato
E o avesso tem mais cor quem diria?
Traçado torto e forte
Avesso
Tesouras embaraçam o cabelo
Lâminas alisam a pele
Línguas lambem o suor
Lábios e palavras avessas
Revirada
Revivida
Me vejo pelo avesso
Desejo exposto, carne crua.
Shirlei Lua
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