domingo, 29 de abril de 2018
Insistir também é desistência?
Precisa um bocado de coragem, inclusive para refletir sobre a condição básica do que é existir. Dias passam e a vida passa junto, dá nó em pingo d'água pensar se tô insistindo por desistência. São Paulo tem concreto que adentra o olho e nubla a vista. Enquanto isso os boletos na caixa de correio lembram de todas as horas que não pude pensar sobre isso. Mais um dia no calendário que não pude ver o nascer do sol, regar as plantas e só ouvir o vento. Os boletos pontuais, os domingos de cansaço, ainda dizem sobre esse tempo, não fosse o despertador, e o ônibus que demora para passar era bem capaz de eu duvidar se tudo foi mesmo vivido. Antes de dormir vou regar as plantas, porque ainda insisto.
Domingo com chuva, convite para curtir a cama. Na janela, a dança das gotas faz bonita a paisagem. O som manso e constante chama para dentro, serve chá quente para as memórias. A coberta abraça, o sono sussurra, uns convidam a preguiça, outros o descanso, há quem saia para dançar. Daqui recebo a nostalgia, e procuro os pingos de amor.
O açoite que corta a carne, o caruncho que fere o grão, não podem aprisionar o silêncio, e essa capacidade da vida de ser o incerto, também por isso o sol esquenta o corpo, e lembra que a poesia é um trem indomado que dança no caos.
Alimento o desespero assim como a esperança, por hoje sobrevivo.
"E, aquele
Que não morou nunca em seus próprios abismos
Nem andou em promiscuidade com os seus fantasmas
Não foi marcado. Não será exposto
às fraquezas, ao desalento, ao amor, ao poema." Manoel de Barros
Alimento o desespero assim como a esperança, por hoje sobrevivo.
"E, aquele
Que não morou nunca em seus próprios abismos
Nem andou em promiscuidade com os seus fantasmas
Não foi marcado. Não será exposto
às fraquezas, ao desalento, ao amor, ao poema." Manoel de Barros
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