Quando se espera tudo com a certeza de que algo existe o nada é uma agulha que fura a alma e atormenta desconfigurando os sonhos, esfriando os beijos num marasmo que afoga.
A imagem de uma moça que ao acordar num dia frio calça suas meias e aquece os pés numa tentativa de encontrar conforto mas em vão olha sua nudez que se reflete no espelho, e o resto permanece frio, parado, quase morto. E na ansia de reviver a moça pula, agita seu corpo mas só percebe o movimento pelo reflexo e nada sente, nenhuma gota de suor escorre ou mesmo o coração altera os batimentos.
Não escuta gritos, nem sussurros e espera que algo a disperte, cria fantasias que se dissipam com o vento e novamente o nada, aquele que adentra sua alma e a faz ver o que esconde por tráz da maquiagem reforçada com minúcia, é tudo frio e gelado.
Suas mãos percorrem sua pele, mas o toque rasga as vestes que criou para fingir ter calor, e o reflexo condena, mostra o nada, ela é feita de nada, sem nome, sem a alma que julgava ter. Percebe movimentos de seus lábios mas nenhum som ecoa e por mais que articule os músculos um tanto flácidos pelo desuso só permanece o silêncio.
Desiste deste exercício de se olhar pois descobre que neste caminho de nada ver sua busca se torna cada vez mais torutosa, inventa uma máscara e a prepara com dedicação pois ainda lhe resta o olhar e o domínio das mãos, veste os trajes de costume e reforça os agasalhos numa combinação de cores quentes para contrastar com o cinza da pele do seu corpo.
Bate a porta e sorri num movimento mecânico que há muito aprendeu a fazer, respira fundo e propaga sons que não lhe pertecem, são só palavras repetidas, as mesmas frases, disfarça, se mistura na multidão e algumas vezes ergue o olhar para o horizonte gastando o resto de esperança que lhe sobra na busca do tudo que não tem.
Nenhum toque é suficiente, nada... Espera tanto que lhe sobra só o nada!
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