domingo, 11 de julho de 2010

Tristeza na poesia

Tem gente que chora quando fica triste, busca abraços, remexe as caixas do passado, rasga mensagens que o tempo transformou em papel amarelado, rabiscos sem sentido. Tem gente que se tranca no quarto escuta suas músicas preferidas, come muito chocolate e fica em silêncio tentando ouvir sua própria voz.
Também sou dessas pessoas, mas tudo isto não me basta, preciso das palavras, busco na poesia a voz que não ouço no meu silêncio.
Devoro as palavras, preencho o vazio com o sentir que a poesia é capaz de despertar.
Não sei ser triste, me falta capacidade de saber entristecer, é algo que me visita, e tão logo chega já vai se despedindo...Deve ser fruto da minha natureza inconstante.
Na poesia descubro caminhos, percorro cenários, desfaço meus castelos de areia e deixo o vento se encarregar de transformar a paisagem.
Me falta disciplina para ser realmente triste, intensa no sentir, distraio-me na ironia, no sarcasmo voraz.

Soneto da separação



"De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.


De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.


Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente."


Vinícius de Moraes

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