Já tentou imaginar quanto tempo se leva para costurar uma colcha de retalhos, como são escolhidos cada quadradinho, a organização do tempo, a dedicação, e no final o que todos veem é se ela é quentinha ou não.
Aprendi a observar o processo das coisas, olhar de professora de Ed. Infantil, que se encanta com avanços cotidianos, percebe no comportamento o progresso do outro.
Não tive disciplina para fazer uma colcha de retalhos, parei no começo e me arrependo, podia ter enfrentado minha ansiedade e ter ampliado a paciência. Mas aprendi que o processo das coisas, da vida, conta muito mais do que o resultado final, são nas pequenas ações espontâneas que moram os mais nobres sentimentos.
Cada quadradinho da colcha deve ter uma história para contar, um caminho percorrido, mas o fato de serem costurados uns aos outros os transformam em algo maior, viram grupo, comunicam-se nas cores e estampas.
Sinto-me como um retalho já costurado numa colcha inacabada, faltam tantos quadradinhos para terminar e fico só aguardando alguém com paciência para costurar-me aos outros tecidos e suas histórias.
Entre os retalhos não existem padrões, são apenas parte de um todo.
Uma colcha de retalhos é também o encontro dos refugados, tiras que sobraram, mas que juntas constroem padrões estéticos embuídos de sentimentos e escolhas.
Engraçada esta vida, num dia se é o retalho esquecido, no outro a manta que aquece...
E talves por isto me reste esperança de tirar do nada o tudo que tanto busco. talvez um dia costure uma colcha de retalhos e posso me transpor figurativamente de objeto para criador, ou só me sinta confortada por ter conseguido ir até o final, fazer o melhor possível.
Preciso deitar meu rosto no travesseiro fofinho e esquecer das coisas inacabadas, focar no processo e dormir em paz, me falta uma colcha quentinha cheia de histórias para confortar o presente, sinto o tecido desfiado da vida e dói remendar cada pedacinho.
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