quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Me fale das possibilidades
Do calor nos corpos
Das caminhadas e fantasias
Eu também vejo o muro
Tijolo por tijolo
Mesmo assim anseio o pulo
Vê aquele tom terracota
E tudo que o sustenta
O horizonte atravessado

A vida  me interessa
Inclusive seu corpo inerte
Diante do medo, alinhado

Cada boca que beijamos
Tinha um gosto diferente
O deslizar de lábios, quentes
O movimento das línguas
Veja bem, há nisso uma dança
Os sons fluídos, perdidos
entre os corpos, o ranger das camas
É plural veja bem, há sempre um contexto
Falemos diverso, também dessa fúria

Viu aquelas flores no caminho?
Ainda é primavera, tem sempre um convite
Outro dia me apresentaram uma poeta
Rasgou meu peito, flecha palavra
Atravessou o oceano, o tempo
Repousa aqui com a taça de vinho

Logo verão, o bronze na pele
A luz  nos olhos diante do sol
Um dia vou me atirar em vários calibres
Derrubar suas folhas e fazer outono
Deslizar até o inverno dos nossos corpos
Contarei dos dias além dos muros
E mergulharei nos seus olhos
Até o mar, na deriva que habitamos.

Shirlei do Carmo

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