Me gritaram negra:
Quando criança, no apelido de bruxa por causa do cabelo, crespo. Era a inteligente, bonita não, sempre um aperta esse nariz, prende esse fuá, piolhenta, beiçuda.
Na adolescência, na mochila revistada quando o perfume de alguém sumiu, essa cara é suspeita, ainda se fosse angelical, esse CEP é marginal. Duas tentativas de estupro...
Já adulta, nos corredores das lojas, segurança é coisa de gente com outra cor, reconheço a vigilância. No tratamento descortês naturalizado. Na sugestão do relacionamento escondido, e naquela fixação do corpo como uma existência inteira só bunda.
Racismo não é igual almoço de domingo, com opção de levantar da mesa, primeiro acaba com a auto estima, enquanto te transforma em presa.
Não me venha com "consciência humana, racismo é coisa da sua cabeça." Tem uma existência toda dizendo que sou negra e que racismo é estrutural.
Shirlei do Carmo
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